20 de ago. de 2009

Sobre a Lei Anti-Fumo

Ou "Como me tornei uma criminosa..."



Muito bem, vocês venceram... Agora faço parte da facção mais criminosa do Rio de Janeiro!

Estou condenada a não mais frequentar bares, danceterias, restaurantes, lanchonetes, edifícios, ou quaisquer outros lugares a não ser quartos de motéis, terreiros ou participar de peças teatrais (é, restaram três opções: fazer sexo, baixar santo ou virar atriz...).

Sinto-me acuada, perseguida, condenada, vilipendiada, ferida nos meus direitos como cidadã.

Tá bem! Concordo que a fumaça do meu cigarro incomoda os não fumantes. Concordo que devo respeitar o direito que as pessoas tem de não fumar. Concordo que existem lugares em que o tabagismo é inaceitável. Apoio até! Não quero que meus filhos fumem. Nunca oferecí cigarro a um não fumante. Nunca baní um não fumante das minhas relações, da minha casa, do meu prédio. Nunca fui preconceituosa com qualquer não fumante que cruzou meu caminho, nunca virei a cara, fiz muchocho ou entortei o nariz. Mas daí a dizer que sou a culpada pelo buraco na camada de ozônio, pelas doenças do mundo, pela praga do século... já é exagero.

Sou da época em que fumavasse dentro das salas de aulas, em ônibus, nos escritórios. Tive zil patrões que fumavam. Médicos que fumavam em seus consultórios. Faziam parte do meu grupo social. E era "chique" fumar. Os filmes de Hollywood retratavam isso. Não dá para imaginar Humphrey Bogart, James Dean, Rita Hayworth e até, mais recentemente, Keanu no filme "Constantine", sem um cigarro entre os lábios.

Para me fazer concordar com essa lei inconstitucional, somente quando criarem a lei anti-álcool. Lógico, porque a bebida mata mais do que 5.000.000 de carteiras de cigarro no Maraca! Quando fumo 200 cigarros por dia, não bato nos meus filhos, não tiro a vida de pessoas no trânsito, não torro o saco dos outros com a boca torta, não me torno violenta, não agrido ninguém. É! E aí, como ficamos? Que tal uma balada sem bebida alcoólica? Não seria legal não cruzar com bêbados, não ser agarrada insanamente por um bebum? E as drogas que rolam nessas baladas? E os red-bulls da noite?

E se estamos falando em lei, por que não nos preocuparmos com as drogas, com a poluição, com os maus gestores da máquina governamental, com as pizzas do Congresso, com o descaso das autoridades, com hospitais que matam, com escolas que não ensinam, com o desmatamento, com as balas perdidas, e tantos outros assuntos muito mais sérios, mais preocupantes, mais alarmantes, mais letais para nossa geração, para a geração dos nossos filhos, netos e assim "ad infinitum".

O assunto é controverso, é polêmico. Será que agora vão criar o grupo dos F.A. (Fumantes Anônimos)?

Deus, dai-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar as coisas que eu possa e sabedoria para que eu saiba a diferença. (Reinhold Niebuhr, Oração da Serenidade)

As representações do mundo social assim construídas, embora aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam. (...) As percepções de social não são de forma alguma discursos neutros: produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que tendem a impor uma autoridade à custa de outros, por elas menosprezados, a legitimar um projecto reformador ou a justificar, para os próprios indivíduos, as suas escolhas e condutas. (Chartier, Roger. A História Cultural. Entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand, 1990. p. 17) (transcrito por Miguel Angel Schmitt Rodriguez)

Já não querem nos convencer, querem nos enxotar. Tratando os fumantes como leprosos que precisam ser erradicados da paisagem, o front antitabaco - o mais pernicioso dos movimentos que pretendem legislar sobre a vida dos outros - não difere muito dos médicos nazistas, que assumiam uma postura de "médicos da sociedade" (ou raça) (...)
Tratando o tema como uma guerra - que está próxima da vitória -, o front antitabaco se comporta como um grupo mais "esclarecido" ("como eles podem colocar uma coisa suja na boca?") que busca a harmonização ("temos que abandonar os vícios") à força, através da desmoralização e proibição. Nos apresentando uma matemática cada vez mais complexa para mostrar que um fumante é um potencial homem-bomba num espaço fechado. (Transcrito do Blog Canaca, de Jean-Philip Albert Struck, Julho-2007).


N.B.: estou fumando neste exato momento... Me denuncie!





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